17 de agosto de 2014

Bullying


Ponto prévio mas muito importante: abomino qualquer prática de bullying seja em ambiente escolar, laboral ou da vida privada de cada um.

No entanto hoje em dia, especialmente ao nível do ambiente escolar, está a criar-se uma espécie de bolha cada vez apertada à volta dos alunos em que tudo o que possa extravasar essa bolha é considerado bullying.

Aliás, só a popularização do termo numa língua estrangeira veio, de certas forma, atribuir uma importância ainda maior ao tema, criando não poucas vezes a percepção de situações que efectivamente não são bullying, mas apenas estupidez (embora o bullying obviamente também contenha uma grande dose de estupidez). Com a explosão das redes sociais (as redes sociais funcionam para a vida pública como 'os mercados' no mundo financeiro, entidades abstractas mas com um poder enorme), mais os telemóveis com câmara e internet, mais o fenómeno se intensifica em exposição pública.

Eu ainda sou do tempo (e agora vou vestir a pele de velho do restelo que diz que no passado é que era bom) em que à saída da escola (quando não era lá dentro) lá estavam uns tipos mais velhos à espera para nos pedir uns trocos, arriscando-nos a levar umas bofetadas caso tivéssemos uma resposta negativa. O nosso temor no caminho escola-casa que nos pudéssemos cruzar com esses tipos (hoje em dia os putos já nem para a escola vão a pé).

No Carnaval, ao chegar à escola, o caminho portão-edifício apresentava-se completamente vazio quando em dias normais estaria cheio de gente. Mais parecia Sarajevo, com os seus snipers de balões de água (seria água?), ovos e farinha, espuma de barbear e sabe-se lá mais o quê! (a comparação com Sarajevo, não me vão para aqui escrever coisas sem sentido, é meramente alegórica e desproporcional como é lógico, um bem-haja a todos os bósnios). Curioso é que faltava sempre a água em Oeiras nessa altura do ano e acabava por nunca haver aulas à tarde.

A minha geração apanhou o flagelo das drogas e dos metálicos (que na altura era quase o mesmo). Havia esperas à porta da escola para pretos baterem em brancos, ciganos baterem em pretos, brancos baterem em brancos, mas coisas à séria. Tive um professor de Estudos Sociais (??) no 5º ou 6º ano que nos sentava no caixote do lixo virado para a parede e ameaçava que nos (sic) "dava um nó na pila".

Nunca ninguém me falou em bullying. Se por coisas destas um tipo pensasse em suicidar-se haveria escolas com funerais todos os meses. Chama-se a isto a lei da sobrevivência em ambiente selvagem. Hoje em dia os putos vivem em cativeiros. E nós sabemos o risco que é colocar um animal nascido e criado em cativeiro naquele que deveria ser o seu habitat natural (já vi no NG Wild e normalmente acaba com os abutres a depenicarem-no).

A minha geração sobreviveu a tudo isso e não consta que tenha ficado com muitos danos (quer dizer, a nova geração de políticos pertence praticamente a mesma geração que eu é efectivamente não augura nada de bom).

Hoje em dia se os professores mandam trabalhos de casa nos fins de semana ou férias, isso é bullying.
Hoje em dia se os alunos têm testes em dias consecutivos, isso é bullying.
Hoje em dia se na cafelaria não há croissants com creme isso é bullying.

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