26 de junho de 2013

Continente

No outro dia no Continente, estava um Toyota Yaris á venda.... e davam 2000 € de desconto em cartão....

Então era este pacote de leite, pão, fruta, um Yaris e esta alface !! 
Quanto é que é tudo? 
12.500 €? 
Sim, quero descontar os 25 cêntimos que tenho em cartão.
Obrigado e bom dia!

Mais giro seriam venderem o carro mas com a bagageira cheia de compras !!

9 de junho de 2013

Crónicas de Luanda (5) - A Entrevista

José Eduardo de Angola, eleito pelos angolanos por sufrágio indirecto para Presidente da República de Angola, deu a primeira entrevista, pelo menos a órgãos estrangeiros, nos últimos 22 anos.

Curiosamente escolheu um jornalista que está normalmente associado SIC, a qual pertence ao grupo Impresa, do qual faz parte o semanário Expresso, o qual habitualmente tem sido muito cáustico relativamente ao regime angolano, gerando até respostas ainda mais duras do Jornal de Angola (aliás, na última deslocação, penso que de Paulo Portas, os jornalistas da SIC nem conseguiram visto para entrar em Angola).

Em primeiro lugar, nem os angolanos com quem contacto faziam a mais pequena ideia de que o seu presidente tinha dado uma entrevista (os portugueses, nesse aspecto, também já se estão completamente a marimbar para os seus governantes).

Em segundo lugar, obviamente que aquilo não foi uma entrevista. Uma entrevista normalmente é feita por um entrevistador a um entrevistado, no qual o 2º normalmente responde às questões colocadas pelo 1º. Esta entrevista é uma espécie de entrevista-ricochete (sim, fui eu que inventei esta expressão agora mesmo, qual Mia Couto de Caxias), em que o entrevistado é que leva as perguntas, manda-as contra uma parede e elas voltam para si (se virem bem, o entrevistador tem uns pequenos fios que mal vêem que o fazem mexer os braços, lábios e olhos - preferi fazer a analogia com uma marioneta em vez de fantoche, por respeito ao Cymerman, uma que os fantoches têm normalmente uma pessoa que lhes mete o braço pelo rabo acima, o que não me parece ter sido o caso, apesar daqueles sorrisinhos suspeitos).

Em terceiro lugar, obviamente que aquilo não prestigiou em nada nem a SIC nem o jornalista. Se era para violar o código deontológico, preferia ter visto o Cymerman a promover Tampax na televisão.

PS: e o que raio aconteceu ao irmão do Cymerman, que também era jornalista, com trabalhos sobretudo para RTP?

Crónicas de Luanda (4) - A (in)Segurança

É já uma pergunta cliché a questão da segurança em Angola.

De todos os expatriados que passam aqui temporadas (aka vivem cá!), não conheço nenhum que nunca tenha sido assaltado pelo menos uma vez. Dos angolanos já nem falo...

Existem 2 tipos de nível de segurança:

- o primeiro é efectivamente aquele que todos temos de ter em qualquer lado, quer seja em Luanda ou em Estocolmo. Ou seja, nunca nos devemos colocar a jeito ou facilitar;

- o outro depende muitas vezes um pouco da sorte.

É preciso ter em conta que, só em Luanda, vivem cerca de 5 milhões de pessoas,  a larga maioria delas trazidas pela guerra para a capital fugindo às sucessivas guerras que afectaram sobretudo as províncias. Estamos a falar de pessoas a viver em condições precárias, pobreza extrema mesmo. Ora, quando um indivíduo nada tem, limitando-se apenas a sobreviver, convenhamos que arriscar no crime não será assim um risco tão grande. Por isso é que a vida, neste tipo de ambientes, promove sempre um baixo valor para a vida humana.

É uma cidade com muitos polícias, que muitas vezes são também bandidos (ou corruptos se quisermos ser mais meigos). Ás vezes tenho mais receio das forças policiais que dos restantes criminosos (uma vez que esses não os conheço, pelo menos até ao dia), uma vez que a polícia actua sob uma capa da autoridade com constantes abusos da mesma (contaram-me há pouco tempo um caso de uma paragem stop em que obrigaram uma expatriada a ir levantam dinheiro a um multibanco... e não foi para o pagamento imediato de nenhuma multa).

Depois temos uma quantidade de forças policiais ou paramilitares que às vezes até ficamos confusos:

- a polícia de segurança pública (tipo a nossa PSP, mas onde o recrutamento é muitas vezes feito - isto dito pelos próprios angolanos, vale o que vale - junto dos bairros mais problemáticos, o que explica muita coisa);

- a força de intervenção rápida, vulgo ninjas, e incorruptíveis, destinados normalmente a acções mais musculadas (em especial as intervenções cirúrgicas em bairros onde resolvem definitivamente alguns problemas, e aqui resolver tem efectivamente um carácter definitivo, em particular para quem é 'resolvido');

- a força presidencial, grupo militar que apenas sai às ruas quando o presidente sai, colocando-se em cada esquina;

Depois temos também a infinidade de empresas de segurança privada (sim, porque qualquer edifício, desde a sede da Sonangol até à mercearia do Sr.Mutamba, tem de ter segurança dia e noite, 24h), muitas das quais têm ao seu dispôr armas de fogo (que é sempre um conceito estranho, que alguns já defendem para Portugal, que é dar armas a civis). Embora, na maior parte dos casos, os seguranças das habitações sejam normalmente uns indivíduos subnutridos que normalmente até adormecem no seu posto de trabalho.

2 de junho de 2013

Crónicas de Luanda (3) - Show (off) must go on

Muitas vezes ficamos surpreendidos pela apetência que os portugueses têm pelas novas tecnologias - os famosos gadgets - nomeadamente pela necessidade que parecem sentir relativamente à última moda em termos de televisões, sistemas audio, telemóveis ou tablets.

Aqui em Angola esse fenómeno supera em larga escala o que se verifica em Portugal. Por exemplo os telemóveis iPhone ou os novos Samsung Galaxy são aqui bastante comuns não sendo visto obviamente como um nicho de mercado. E os preços aqui praticados superam também largamente o que se verifica na Europa (no mercado de venda tradicional, não falo obviamente do mercado paralelo de rua).

Também os tablets, para ser mais preciso vulgo iPad's, também aqui se tornaram uma necessidade, mesmo que em muitas das vezes as redes de internet móvel sejam sofríveis. Mas o que é que isso interessa quando se pode mostrar ao mundo coisas bonitas?

Dos angolanos com quem contacto devem existir poucos casos em que o telemóvel eles não seja sempre de gamas superiores ao meu (e não digo isto como inveja mas para elucidar a situação com que sempre me deparo - andam sempre à frente).

Das primeiras vezes que vim a Angola, por momentos ainda acreditei que os preços cá seriam mais baratos porque eventualmente importariam via China ou via Dubai. Efectivamente não é o caso, os angolanos predispõem-se na realidade a gastar 1000 dólares num telemóvel, mesmo sabendo que no dia seguinte poderão ser assaltados ao virar da esquina.

Há um show-off natural no angolano. E há também muita vaidade (aquela ideia - e aqui até poderei estar a pisar o risco do racismo - quando os primeiros descobridores chegaram por estas bandas e trocaram riquezas por quinquilharia e espelhos, ainda hoje, de outra forma é certo, se mantém bastante actual).

Há uma necessidade perene de mostrarem que podem e têm. E isso reflecte-se nos gadgets, nos carros, na roupa e na atitude, sobretudo aqueles que de repente têm alguma coisa, a que chamaríamos em Portugal novos-ricos (aqui em Angola é díficil dizer o que é ser rico).

Na atitude, por exemplo, quando mais poder têm de repente nas mãos, mais prepotentes se tornam. E também a voz aumenta o tom (os angolanos, ao telefone ou em grupo, têm sempre 2 tons de voz possíveis: alto ou aos gritos ! - aliás seria curiosa uma análise otorrino-blábláblá aos angolanos porque acredito que a maioria, só assim se justifica este comportamento, padece de alguma surdez).

E existe sempre aquela ideia do racismo ser sempre do tipo branco --> preto ou branco --> amarelo ou branco --> vermelho. Entre os africanos muitas vezes esse racismo é muito mais aceso (já tive oportunidade, mais do que uma vez, de um preto chamar 'preto' a outro igual... ou 'macaco'...)

Crónicas de Luanda (2) - O Inferno

O trânsito em Luanda pode ser infernal.

Nos dias normais já é muito complicado, principalmente para quem vem de fora da cidade para o centro mais nevrálgico. Estamos a falar de pessoas que entram às 8 horas da manhã mas preferem sair de casa às 5:30 e dormir à porta do trabalho do que arriscarem sair mais tarde e apanharem 2 horas no trânsito... e isto num percurso entre 15 a 20 kms apenas.

E quando chove nem vale a pena falar... muitas vezes nem vale a pena sair de casa... para demorar 4h a chegar ao trabalho e mais 4 para regressar... 

Como é que pessoas que se levantam às 4 da manhã para saírem para o trabalho conseguem depois ser minimamente produtivas? Depois quando damos formação já aconteceu ver pessoas a adormecer ... e no período da manhã, porque à tarde, depois do almoço, já nem vale a pena, seria uma preciosa perda de tempo.

As regras do trânsito em Luanda assemelham-se às que vemos nalguns chico-espertos em Portugal (meterem-se a meio das filas, procurar atalhos, mudar de faixa a toda a hora, etc). Só que aqui isso acontece com todas as pessoas e a toda a hora. Conta quem tem o carro maior, mas principalmente quem tem mais cojones...

Nas passadeiras já vão começando a parar. Mas aqui não dá fazer o truque de meter o pé na passadeira para tentar intimidar os condutores. Aqui tentar issi deve resultar provavelmente na perda de um pé. Não que os peões angolanos se preocupem muito com as passadeiras, já que eles atravessam-se em frente aos carros como se não fosse nada com eles.

1 de junho de 2013

Crónicas de Luanda (1) - A Pornografia

O custo de vida em Luanda é verdadeira pornografia. Por alguma razão já foi considerada como a cidade mais cara para expatriados viverem.

Aqui facilmente se ouvem pessoas a dizer que 3.500 USD por mês para pouco servem. Uma pessoa imagina um vencimento destes em Portugal e seria uma maravilha.

Mas na realidade, o custo de vida por estas bandas é muito superior aquele vivido na Europa (próximo talvez só a Escandinávia), sobretudo ao nível da alimentação e do alojamento.

Os produtos alimentícios são na maior parte dos casos importados, gerando assim um preço muito mais alto à partida. Juntando a isso desalfandegamentos, comissões pelo meio, etc, quando chega ao consumidor final imaginem os valores.

Num restaurante banal facilmente se gastam 40 ou 50 USD por pessoa. Num mais sofisticado esse valor pode chegar facilmente aos 100 USD. Num hotel como aquele em que estou (3 estrelas), uma refeição nunca fica por menos de 40 USD (e estamos a falar de um buffet com 2 pratos). Nos hóteis de 4 ou 5 estrelas, com um buffet continental como deve ser, o valor atinge normalmente os 75 USD, bebidas não incluídas é claro (e aqui beber água é mais caro que beber cola ou cerveja, embora isso não possa servir de desculpar para eles andarem muitas vezes mamados).

Nos supermercados que fazem jus ao nome, os preços dos bens essenciais (leite, fruta) também estão hiper-inflacionados.

No alojamento, fruto da escassez do mesmo até há pouco, tanto ao nível hoteleiro como de habitação, os preços também são sempre de bradar aos céus. Uma noite com pequeno almoço incluído num 3 estrelas começa nos 300 USD... depois nas outras categorias é ir subindo.

A habitação tradicional, fruto da enchente de expatriados e de autóctones, também atinge valores mirabolantes.

Por exemplo, numa zona mais central de Luanda, o arrendamento de um apartamento T2 pode chegar aos 2.200 / 3000 USD por mês. E estamos a falar de prédios com 30 ou 40 anos de idade, já sem elevador a funcionar (e estamos a falar de prédios até 10 ou 12 andares), sem manutenção ou limpeza nas zonas comuns. E em que, por exemplo, o abastecimento de água é feita através de depósitos individuais existentes muitas vezes nas bases dos prédios com ajuda de bombas (ou seja, é necessário comprar água de tempos a tempos para encher os depósitos, é necessário ter uma bomba e um gerador para puxar a água e gerar electricidade e é necessário combustível para alimentar o gerador). Custos e mais custos... Se viverem numa casa/vivenda provavelmente vão necessitar de guardas à porta 24h (ou seja, pelo menos 2)