9 de junho de 2013

Crónicas de Luanda (4) - A (in)Segurança

É já uma pergunta cliché a questão da segurança em Angola.

De todos os expatriados que passam aqui temporadas (aka vivem cá!), não conheço nenhum que nunca tenha sido assaltado pelo menos uma vez. Dos angolanos já nem falo...

Existem 2 tipos de nível de segurança:

- o primeiro é efectivamente aquele que todos temos de ter em qualquer lado, quer seja em Luanda ou em Estocolmo. Ou seja, nunca nos devemos colocar a jeito ou facilitar;

- o outro depende muitas vezes um pouco da sorte.

É preciso ter em conta que, só em Luanda, vivem cerca de 5 milhões de pessoas,  a larga maioria delas trazidas pela guerra para a capital fugindo às sucessivas guerras que afectaram sobretudo as províncias. Estamos a falar de pessoas a viver em condições precárias, pobreza extrema mesmo. Ora, quando um indivíduo nada tem, limitando-se apenas a sobreviver, convenhamos que arriscar no crime não será assim um risco tão grande. Por isso é que a vida, neste tipo de ambientes, promove sempre um baixo valor para a vida humana.

É uma cidade com muitos polícias, que muitas vezes são também bandidos (ou corruptos se quisermos ser mais meigos). Ás vezes tenho mais receio das forças policiais que dos restantes criminosos (uma vez que esses não os conheço, pelo menos até ao dia), uma vez que a polícia actua sob uma capa da autoridade com constantes abusos da mesma (contaram-me há pouco tempo um caso de uma paragem stop em que obrigaram uma expatriada a ir levantam dinheiro a um multibanco... e não foi para o pagamento imediato de nenhuma multa).

Depois temos uma quantidade de forças policiais ou paramilitares que às vezes até ficamos confusos:

- a polícia de segurança pública (tipo a nossa PSP, mas onde o recrutamento é muitas vezes feito - isto dito pelos próprios angolanos, vale o que vale - junto dos bairros mais problemáticos, o que explica muita coisa);

- a força de intervenção rápida, vulgo ninjas, e incorruptíveis, destinados normalmente a acções mais musculadas (em especial as intervenções cirúrgicas em bairros onde resolvem definitivamente alguns problemas, e aqui resolver tem efectivamente um carácter definitivo, em particular para quem é 'resolvido');

- a força presidencial, grupo militar que apenas sai às ruas quando o presidente sai, colocando-se em cada esquina;

Depois temos também a infinidade de empresas de segurança privada (sim, porque qualquer edifício, desde a sede da Sonangol até à mercearia do Sr.Mutamba, tem de ter segurança dia e noite, 24h), muitas das quais têm ao seu dispôr armas de fogo (que é sempre um conceito estranho, que alguns já defendem para Portugal, que é dar armas a civis). Embora, na maior parte dos casos, os seguranças das habitações sejam normalmente uns indivíduos subnutridos que normalmente até adormecem no seu posto de trabalho.

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