2 de junho de 2013

Crónicas de Luanda (3) - Show (off) must go on

Muitas vezes ficamos surpreendidos pela apetência que os portugueses têm pelas novas tecnologias - os famosos gadgets - nomeadamente pela necessidade que parecem sentir relativamente à última moda em termos de televisões, sistemas audio, telemóveis ou tablets.

Aqui em Angola esse fenómeno supera em larga escala o que se verifica em Portugal. Por exemplo os telemóveis iPhone ou os novos Samsung Galaxy são aqui bastante comuns não sendo visto obviamente como um nicho de mercado. E os preços aqui praticados superam também largamente o que se verifica na Europa (no mercado de venda tradicional, não falo obviamente do mercado paralelo de rua).

Também os tablets, para ser mais preciso vulgo iPad's, também aqui se tornaram uma necessidade, mesmo que em muitas das vezes as redes de internet móvel sejam sofríveis. Mas o que é que isso interessa quando se pode mostrar ao mundo coisas bonitas?

Dos angolanos com quem contacto devem existir poucos casos em que o telemóvel eles não seja sempre de gamas superiores ao meu (e não digo isto como inveja mas para elucidar a situação com que sempre me deparo - andam sempre à frente).

Das primeiras vezes que vim a Angola, por momentos ainda acreditei que os preços cá seriam mais baratos porque eventualmente importariam via China ou via Dubai. Efectivamente não é o caso, os angolanos predispõem-se na realidade a gastar 1000 dólares num telemóvel, mesmo sabendo que no dia seguinte poderão ser assaltados ao virar da esquina.

Há um show-off natural no angolano. E há também muita vaidade (aquela ideia - e aqui até poderei estar a pisar o risco do racismo - quando os primeiros descobridores chegaram por estas bandas e trocaram riquezas por quinquilharia e espelhos, ainda hoje, de outra forma é certo, se mantém bastante actual).

Há uma necessidade perene de mostrarem que podem e têm. E isso reflecte-se nos gadgets, nos carros, na roupa e na atitude, sobretudo aqueles que de repente têm alguma coisa, a que chamaríamos em Portugal novos-ricos (aqui em Angola é díficil dizer o que é ser rico).

Na atitude, por exemplo, quando mais poder têm de repente nas mãos, mais prepotentes se tornam. E também a voz aumenta o tom (os angolanos, ao telefone ou em grupo, têm sempre 2 tons de voz possíveis: alto ou aos gritos ! - aliás seria curiosa uma análise otorrino-blábláblá aos angolanos porque acredito que a maioria, só assim se justifica este comportamento, padece de alguma surdez).

E existe sempre aquela ideia do racismo ser sempre do tipo branco --> preto ou branco --> amarelo ou branco --> vermelho. Entre os africanos muitas vezes esse racismo é muito mais aceso (já tive oportunidade, mais do que uma vez, de um preto chamar 'preto' a outro igual... ou 'macaco'...)

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