9 de junho de 2013

Crónicas de Luanda (5) - A Entrevista

José Eduardo de Angola, eleito pelos angolanos por sufrágio indirecto para Presidente da República de Angola, deu a primeira entrevista, pelo menos a órgãos estrangeiros, nos últimos 22 anos.

Curiosamente escolheu um jornalista que está normalmente associado SIC, a qual pertence ao grupo Impresa, do qual faz parte o semanário Expresso, o qual habitualmente tem sido muito cáustico relativamente ao regime angolano, gerando até respostas ainda mais duras do Jornal de Angola (aliás, na última deslocação, penso que de Paulo Portas, os jornalistas da SIC nem conseguiram visto para entrar em Angola).

Em primeiro lugar, nem os angolanos com quem contacto faziam a mais pequena ideia de que o seu presidente tinha dado uma entrevista (os portugueses, nesse aspecto, também já se estão completamente a marimbar para os seus governantes).

Em segundo lugar, obviamente que aquilo não foi uma entrevista. Uma entrevista normalmente é feita por um entrevistador a um entrevistado, no qual o 2º normalmente responde às questões colocadas pelo 1º. Esta entrevista é uma espécie de entrevista-ricochete (sim, fui eu que inventei esta expressão agora mesmo, qual Mia Couto de Caxias), em que o entrevistado é que leva as perguntas, manda-as contra uma parede e elas voltam para si (se virem bem, o entrevistador tem uns pequenos fios que mal vêem que o fazem mexer os braços, lábios e olhos - preferi fazer a analogia com uma marioneta em vez de fantoche, por respeito ao Cymerman, uma que os fantoches têm normalmente uma pessoa que lhes mete o braço pelo rabo acima, o que não me parece ter sido o caso, apesar daqueles sorrisinhos suspeitos).

Em terceiro lugar, obviamente que aquilo não prestigiou em nada nem a SIC nem o jornalista. Se era para violar o código deontológico, preferia ter visto o Cymerman a promover Tampax na televisão.

PS: e o que raio aconteceu ao irmão do Cymerman, que também era jornalista, com trabalhos sobretudo para RTP?

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