14 de fevereiro de 2018

São Valentim

(revisitando um post antigo mas que se mantém sempre actual)

O Dia de São Valentim (vulgo Dia dos Namorados) deve ser, a seguir ao Natal, a época mais comercial do ano. E se o Natal ainda tem uma história mais ou menos poética, em especial para todos aqueles que são fãs de ficção científica, a história do São Valentim acaba com a decapitação deste, o que de romântico deixa bastante a desejar.
 
Em primeiro lugar temos os lugares comuns que preenchem os noticiários das televisões e rádios nacionais, com as famosas reportagens de rua (vox populi) em que se fala deste dia especial para todos os casais. A minha inquietação é: se só este dia é que é especial durante o ano inteiro, então eu diria que aqueles casais têm claramente um problema. Em todas as reportagens sente-se sempre uma certa aura sexual, seja nos restaurantes, com pratos afrodisíacos, nos hotéis com pacotes especiais (normalmente espumante e bombons, que inovadores!! ou massagens a dois!!) ou nas lojas de lingerie (e actualmente também nas sex shops - estatisticamente o dia 15 Fevereiro é o dia em que há mais trocas de lingerie nas lojas porque os homens querem forrobodó e marotice e as mulheres querem coisas sensuais mas que sejam práticas de vestir). Como se nos quisessem dizer era que este dia segue 3 passos: flores (inevitavelmente rosas) + jantar + forrobodó entre os lençóis (com claro benefício para a indústria hoteleira e moteleira).
 
Temos também a indústria da restauração que deve sentir este dia como uma lufada de ar fresco (tal como as floristas, perfumarias, chocolaterias, lingerias,...).
 
Temos assim dois tipos de restaurantes:

1) aqueles que alinham, quase geometricamente, somente mesas para duas pessoas, como se quisesse juntar uma convenção de casais ao estilo nipónico (nesses dias é claramente desaconselhável ir jantar com um colega ou amigo, a não ser que queiramos passar por homossexuais - e atenção que não tenho problema nenhum com a comunidade gay, não tenho é qualquer interesse em ser confundido com um deles, como não tenho em ser confundido com um sportinguista, um democrata cristão ou um amante de puzzles).
 
2) depois temos os restaurantes que só servem para grupos, ou seja, aqueles que essencialmente vão servir para organizar jantares de grupos de pessoas que não tem qualquer relacionamento naquele momento mas que, por qualquer razão misteriosa que a ciência ainda não descobriu (apesar de já mandar automóveis com manequins para o espaço!!), sentem também a necessidade de (não) celebrar esse dia, muitas vezes até se auto-titulando Jantar de encalhados (um termo que aliás abomino, podiam antes chamar-lhes Jantares Tollan, para ser mais subtil e, ao mesmo tempo, humor inteligente). É um fenómeno que, confesso, me custa a entender.

Coincidindo com a semana do Carnaval, o termo forrobodó este ano tem assim uma aplicação ainda mais feliz.

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