Existem alguns países na Europa com os quais nunca nutri uma especial relação, nomeadamente um triunvirato (Suiça, Áustria e Alemanha) que apelido, ‘carinhosamente’ de Nazilândia. Chamem-lhe preconceito mas eu chamo-lhe desconfiança por países que, ou tiveram um regime plebiscitado execrável (Alemanha), ou aceitaram serem anexados via referendo (Áustria) ou viveram sempre numa neutralidade activa (Suiça).
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Para além do facto de todos eles terem uma língua oficial – alemão – que é qualquer coisa de inenarrável, ora parecendo que vão libertar todo aquele catarro e expectoração para cima de nós, ora parecendo que nos estão a dar um valente ralhete. As duas palavras mais bonitas do mundo (Amo-te e Benfica) devem soar incrivelmente mal naquela língua de trapos. Aliás a 1ª deve parecer tão sensual como um desfile do Alberto João Jardim em cuecas…
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Agora nos últimos tempos comecei a sentir um certo fascínio por conhecer Berlim (talvez para o ano). E surgiu a oportunidade de ir à Suiça com o J.S. e a A.S. E as viagens servem sobretudo para olvidar preconceitos e desmistificar situações. E como é bom desmistificar! Em relação à Suiça eu tinha uma série de mitos criados: a limpeza exemplar do país onde não se vê um papel no chão (nas grandes cidades não é bem assim), a cidadania inata do povo (não são assim tão simpáticos e nas estradas assisti a algumas ultrapassagens dignas de qualquer condutor sob o efeito do tugaísmo) e que não há mendigos na rua (mentira descarada, talvez há 40 anos assim fosse…).
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Que a Suiça é o país das vacas e das cabras não há grandes dúvidas, embora também possamos encontrar isso em Lisboa (basta sair à noite para alguns bares da moda). E que é o país dos chocolates (algo que também temos em Lisboa, bastando entrar no comboio da linha de Sintra em hora de ponta). E que tem muitos portugueses, facto para o qual eu não consigo encontrar assim de repente qualquer benefício…
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A verdade é que a Suiça revela-se sobretudo pela Natureza. Por muitos edifícios que o Homem construa (e os helvéticos primam por uma arquitectura extremamente apelativa à vista) nenhum deles terá a força e a imponência que a Natureza no seu estado mais selvagem nos pode oferecer.
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Não cheguei a encontrar a Heidi nas montanhas (parece que agora vive num quarto por cima do clube nocturno onde trabalha todas as noites), mas descobri uma coisa mais interessante - o GPS no automóvel – que permitirá a qualquer cidadão comum ser taxista em qualquer lugar do mundo, sem o risco de ser aldrabado ou de ter de entabular conversas do tipo “Estes gajos do Governo deviam era ser todos corridos e vir outro Salazar” ou “Eles para hoje davam chuva para a tarde” ou ainda “Estes gajos do Benfica são todos uns chulos, o que nós precisávamos era de um Pinto da Costa”.
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PS: a minha teoria das hospedeiras confirmou-se. Quanto mais curtos são os voos, mais giras são as hospedeiras… mas parece-me que também mais burras… Assisti a uma frase exemplar de uma delas: “Não gosto destes voos curtos porque estamos sempre a trabalhar. Nos voos mais longos temos tempo para o lazer” (lazer em pleno voo? a não ser que estejamos no A380 em Executiva assim de repente não estou a ver como é possível...) . As mesmas que entre o “Café? Chá? Chá? / Café?” conseguiram contar grande parte da sua vida pessoal uma à outra (e eu que nem aprecio novelas, tive de gramar aquilo tudo).
PS2: pela primeira vez num voo assisti a uma coisa que, em termos de segurança, deve ser de bradar aos céus: a existência de dois passageiros com o mesmo lugar…