Na passada semana assistimos à maior manifestação de sempre de professores em Portugal, desta vez contra o novo estatuto da carreira docente. Se os protestos em si já se podem considerar normais, o número de participantes excedeu largamente as melhores expectativas (o facto de ser Feriado e estar um tempo agradável ajudaram à concentração).
Acredito que, em algumas questões, os professores até poderão ter razão. Agora, esta constante negação e contestação durante os últimos 20 anos a quaisquer alterações na Educação em Portugal não se tornam muito abonatórios para a classe docente. A imagem que fica é a permanente obstaculização a todas e quaisquer medidas que tenham como objectivo a melhoria do ensino em Portugal.
A Educação em Portugal sofre essencialmente de 3 males: os professores, os alunos e os pais. Temos professores desmotivados, não pelas condições que se lhes apresentam (argumentos com que tentam sempre enganar-nos) mas pelo facto da maioria deles não ter aptidões para serem professores (e quando não se gosta de fazer uma coisa geralmente faz-se mal). Muitos dos professores só o são por mero acaso, como último recurso a carreiras não conseguidas noutras áreas (temos assim um refúgio de frustação, exponencialmente aumentado pelos "Morangos com Açucar", onde os professores são apresentados como pessoas bastante cool). Por outro lado temos alunos que não querem aprender e veêm a escola como um local aprazível para comentarem os últimos episódios das novelas, última versão do Messenger ou o mais sofisticado iPod. Em relação aos pais, estes veêm a escola como um depósito para os filhos enquanto estão a trabalhar, esquecendo-se do papel fundamental da educação também em casa, nomeadamente ao nível da assunção de princípios, valores e regras.
Temos assim professores que não querem ensinar, alunos que não querem aprender e pais que não querem saber.
Uma dos maiores receios dos docentes são a perda de direitos, esquecendo-se do que eles têm são, na maior parte dos casos, não direitos mas sim privilégios. A evolução das carreiras e a forma de avaliação são situações exclusivas do universo da Administração Pública. Costumo sempre utilizar uma comparação, hiperbolizada é claro, da evolução das carreiras no sector público e no sector privado utilizando um sistema de escadas. Se no privado temos uma escadaria normal, onde subimos a pulso com o cansaço inerente e, por vezes, tendo mesmo de descer degraus, no sector público encontramos uma escada rolante onde apenas temos de nos colocar no 1º degrau e esperar que a escada atinja o topo. Isto para não falar nos regimes de avaliação onde o mínimo, no sector público, costuma ser sempre Bom. Temos assim um mercado da educação completamente ineficiente. Isto resultará, num futuro não tão longínquo como possa parecer, num Ensino tendencialmente pago e onde a acção privada terá um papel cada vez mais fulcral. Porque os privados também fazem serviço público.
4 comentários:
Ser Ministro da Educação deve ser uma tarefa um bocado ingrata, é sempre logo um dos primeiros alvos a abater no Governo. À primeira medida caiem-lhe logo em cima os professores todos. Quantos ministros foram triturados em 10 anos de Cavaquismo ?
Ou pior ainda, quem é que ainda se lembra dos Ministros da Educação anteriores?
Assim de repente só me lembro do Couto dos Santos, AKA, Boicouto e outros mimos, foi dos que mais sofreu, da Manuela Ferreira Leite, mas essa mais por ter sido Ministra das Finanças depois e do Carneiro, aquele que tinha 30 filhos ou lá que era.
A tua comparação hiperbolizada está um bocado desactualizada... é que a escada rolante encontra-se parada já faz uns anos...
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